Dor nas costas: o papel da Fisioterapia

Fta. Sara Silva

Introdução

A coluna vertebral situa-se desde o crâneo até às ancas, sendo formada pela sobreposição de um conjunto de cerca de 33 ossos, as vértebras, apresentando 4 zonas: cervical (7 vértebras), dorsal (12 vértebras), lombar (5 vértebras) e sacro-coccígea (5 sacras e cerca de 4 coccígeas). Apresenta 2 tipos de curvaturas consideradas normais: lordose (concavidade posterior) nas zonas cervical e lombar, e cifose (concavidade anterior) nas zonas dorsal e sacro-coccígea, que lhe conferem maior mobilidade, permitindo desempenhar as suas funções.

A dor nas costas localiza-se na maioria dos casos desde a região lombar até às nádegas, provocando desconforto e alterações na mobilidade, podendo originar sensações de queimadura, formigueiro, dormência, rigidez e picada em várias partes do corpo. Como consequência destas alterações, as ações quotidianas ficam limitadas, verificando-se dificuldades em tarefas simples como, por exemplo, sentar e levantar de uma cadeira.

Coluna Vertebral

Esta condição pode ser de tipo agudo, quando a dor permanece durante semanas até meses, ou crónica, na qual se manifesta para o resto da vida. Neste último caso, a dor que inicialmente se localiza nas costas tende a irradiar para os braços e pernas, podendo gerar limitações físicas, psicológicas e até sociais, sendo comum as insónias e a insegurança no desempenho de movimentos.

Como principal causa identifica-se o efeito acumulativo ao longo de meses e anos de posturas inadequadas, sobrecargas excessivas, movimentos bruscos, movimentos repetitivos, o sedentarismo, a prática inadequada de atividade física, excesso de peso, desvios na coluna, stress, tensão muscular, alterações em órgãos internos, processos inflamatórios e maus hábitos de trabalho e de lazer, sendo raro resultarem de um único acidente ou lesão.

Os desvios na coluna desenvolvem-se por alteração nas curvaturas da coluna normais, seja por exagero das mesmas que se denomina hiperlordose ou hipercifose dependendo das zonas, por diminuição das curvaturas (retificação) ou por existência de uma curvatura de forma anómala em S, afetando o normal funcionamento do sistema ósseo e muscular, e originando dor.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, qualquer pessoa, em determinado momento da vida, irá apresentar dor nas costas, independentemente da intensidade, apesar da sua maior incidência na idade adulta e na terceira idade, o que determina a importância deste problema de saúde.

Tratamento indicado na dor nas costas

A abordagem inicial, indicada pela maioria dos médicos, para a recuperação desta condição clínica consiste na utilização de fármacos anti-inflamatórios e analgésicos, prescritos para diminuir a dor, bem como o repouso e numa fase mais avançada a intervenção cirúrgica.

Segundo o The Lancet (Março 2018), o tratamento anteriormente referido demonstra-se ineficaz na maioria dos casos de dor nas costas, além de que a utilização por tempo prolongado e em excesso destes fármacos provoca efeitos secundários. A alternativa terapêutica que apresentou melhores resultados foi a realização de atividade física e reeducação postural, orientadas por um fisioterapeuta, o que a médio prazo demonstrou a possibilidade de retorno à vida normal.

A Fisioterapia visa promover o reequilíbrio entre os sistemas ósseo, muscular e nervoso, para diminuir a dor e aumentar a mobilidade. Para tal atua diretamente no foco da dor, mediante uma diversidade de recursos como as técnicas manuais, o alongamento e o fortalecimento muscular, após uma avaliação detalhada do tipo de dor e pesquisa da sua origem, bem como das limitações que provoca na vida da pessoa. Desta forma, pretende diminuir os sintomas e limitações, evitar o agravamento da condição clínica e prevenir novos quadros dolorosos, verificando-se melhoria da dor nas primeiras semanas e uma recuperação antes de 3 meses, dependendo da gravidade da situação.

O fisioterapeuta tem um importante papel enquanto educador de correção postural, avaliando a existência de alterações estruturais na coluna vertebral e nas suas curvaturas, bem como a postura adoptada pela pessoa na sua vida diária e nas atividades que realiza, a fim de corrigir os desvios encontrados e orientar na correção dos mesmos e no ensino de estratégias.

Conclusão

A dor nas costas é uma condição de saúde frequente, sendo de extrema importância o seu tratamento precoce atendendo aos efeitos que podem surgir a longo prazo quando é ignorada, podendo originar severas limitações físicas, psicológicas e sociais na vida da pessoa. Esta condição clínica pode ser tratada por métodos clínicos, cirúrgicos e pela Fisioterapia, verificando-se que os mais eficientes para a recuperação são os recursos utilizados pela Fisioterapia.

O papel do fisioterapeuta consiste em realizar uma avaliação detalhada do quadro clínico da pessoa e estabelecer um programa de reabilitação adequado, tendo em conta o que a mesma identifica como problemas e os seus objetivos, a fim de promover não só a recuperação mas também a prevenção de novos quadros dolorosos. A opção farmacológica constitui um importante meio complementar, por um período curto de tempo, na redução da dor e inflamação.

Assim, verifica-se que o papel da Fisioterapia possui relevância clínica na gestão da dor em pessoas que apresentem dor nas costas, prevenindo a evolução destas condições até à formação de alterações estruturais e consequente possível incapacidade. Por outro lado, promove a saúde e o bem-estar das pessoas, não só pelo alívio dos sintomas, mas pela correção postural e ensino de estratégias que permitem lidar com a situação, sendo possível prevenir novas crises álgicas, e evitar o seu aparecimento em pessoas sem sintomatologia quando educadas precocemente.

Gardin, Luciana (2019) Fisioterapia para dor nas costas e coluna. São Paulo: Evolua Reabilitação.

Ruprecht, Theo (2016) Exercícios para prevenir e tratar as dores nas costas. São Paulo: Saúde